quinta-feira, 20 de janeiro de 2011




E quando todas as palavras parecem ter sido ditas? E quando somente o silêncio é o que existe entre duas pessoas? O que isso significa? É esse o momento de dizer adeus?

As perguntas passeiam pelo vento feito as folhas dançantes no outono, que mais ou cedo ou mais tarde atingem o chão, ou seja, não tem mais para onde ir. O percurso se completa, a queda fecha o ciclo que começou. As perguntas são barradas por um beco forjado em minha mente. Quem sabe as respostas sejam tão doloridas que eu me recuso a querê-las verdadeiramente? Não são perguntas retóricas, elas exigem respostas que apenas o tempo me dirá, mas o tempo é um indivíduo muito indeciso, relativo e incoerente. Ele se dá ao luxo de ter seu próprio tempo e de chegar quando bem entender, é uma pena, pois preciso de respostas agora, não posso ficar atado aos caprichos de alguém que talvez não me ajudará.

Se tudo já foi dito como eu ainda espero uma solução para os problemas que nossa relação trouxe? É, eu te amei, me entreguei a esse amor, de olhos vendados pela paixão. Você me aceitou, me iludiu, acariciou meu coração por um tempo e depois o atirou na primeira lixeira que encontrou, mas sabe que ele, sozinho, abandonado e carente, ainda chorou por você e desejou tê-la de volta. Nenhum coração é tolo o bastante até que aprenda a amar e nenhum dos seus batimentos fazem sentido ao menos que ele padeça dessa tolice.

E o que você me disse quando partiu e me deixou afogada em minha solidão venenosa? Nada, não é? Você não proferiu nenhuma palavra, nem ao menos me deu motivos para rasgar meu peito. Às vezes eu acho que diante de tudo o que aconteceu, as respostas estejam bem nítidas na minha frente, embora eu ainda insista em ignorá-las.
Eu soube que você tem outro alguém. Foi difícil aceitar isso e o ferimento que começava a cicatrizar se abriu novamente, mas sabe de uma coisa, foi até bom, hoje vejo vocês dois naquele banco, juntos, sorrindo, se beijando. Espero realmente que ela te faça feliz e que não seja apenas mais uma vítima de sua armadilha cruel de despedaçar corações.

Essa é a última vez que vejo vocês. Corri até o fim da praça e lá de longe olhei para trás, dei mais alguns passos e tropecei na resposta para as minhas perguntas e ela me sorriu timidamente e seus olhos se encontraram com os meus. Todo fim traz um novo começo. Era hora de começar novamente.

Meu coração encardido precisava de um banho, afinal, ele precisa estar bem arrumado para o próximo encontro.

Quando falo de dor ...



 No mesmo tom que se fala de um falecido, falo desse ano. Arrepios de dor tomam conta de mim ao anoitecer, quando a noite deixa claro onde está a ferida. Meus olhos agitados na cama, pulo a janela e sento para ver a cidade, a névoa me abraça e o calor do meu coração declara aos gritos o arrependimento. Onde está a vida? Tudo tem sido tão injusto. A certeza das minhas escolhas tornam-se grandes erros. E eu que me achava tão madura. Início do ano: euforia, meio do ano: esporro, final do ano: dor. Ao meu ver este ano foi perdido, é como se ele se subtraísse da minha vida, submergisse. É tão típico falar de dor e cicatrizes, mas eu falo de uma dor tão verdadeira, corrosiva, fatal. Desde a hora em que acordo ela me tortura, é como se meu coração estivesse sendo pressionado, literalmente. À noite ela se acentua, e como eu disse, a escuridão deixa claro onde está a ferida. Tento me prender a pequenos vícios pra esquecer tudo isso (anestesia), me comporto como uma mulherzinha boba. Academia, corrida, salão, dermatologista, shopping, roupas, biquines, vestidos, sapatos. Existe meu lado culto também. Livros, livrarias, pesquisas, documentários, jornal.

E eu vou sonhando... sonhando em ser curada, sonhando em ser o suficiente, em superar as expectativas, sonhando em ver o sol nascer, em encontrar alguém, em encontrar até mesmo um amor. Eu sonho, porque são meus sonhos que não me deixam cair.


    - Eu preciso de um tempo pra mim.
E foi. Disse também que precisava se encontrar, mas, a essas horas, eu já estava absurdamente arrasada. É interessante pensar nisso porque eu sempre o vi como um pássaro. E pássaros são livres, livres… Ele foi. E dessa partida, criou-se em mim uma ferida profunda e doída, a qual eu sabia que seria difícil recuperar. Não por culpa dele, mas por minha culpa. Criar expectativas demais é sempre ilusório, e eu já devia saber.
- Espere...
- O que foi? Aquilo estava pronto para sair de minha boca, mas o coração acelerava e tornava tudo mais difícil.
- Quando você ver o que você precisar ver… Quando você se encontrar… Volte pra mim.